segunda-feira, 25 de outubro de 2010

A menina que parou o mundo e construiu a lua com os pés.


                                                                      CAPÍTULO II

Desde quando nasci minha mãe afirma que fui uma criança tranquila e não e encomodava 24h por dia, mas todas as noites demorava pra pegar no sono e algumas nem dormia. Um pouco da minha história quem já leu conheçe.. quando escrevi pela primeira vez tinha cinco anos de idade, hoje sou um pouco mais velha. Passarram três anos e começei a ter interesse por contos de histórias infantis, viajava lendo Chapeuzinho Vermelho. As palavras complicadas que não conseguia ler e muito menos interpretar pedia que minha mãe explicasse. E como sempre minha mãe, heroina.
No capítulo anterior contava sobre um sonho em que estive presente, agora não será diferente, vou falar mais do que isto.. um sonho real. Novamente no dia 13 de dezembro de 2019 as 06:00h da madrugada nasce uma menina aos berros. Lembro como se fosse hoje, gritei tanto, mas tanto que cheguei a pensar que minha voz sumiria. Senti como se estivesse em um casulo presa e depois de nove meses saisse. Quando parei de chorar olhei em minha volta, havia muitas coisas e eu não entendia. De repente estava no colo de uma mulher que olhava para mim e movia os lábios de uma maneira bonita, consegui ficar calma. Depois de um tempo fomos para outro lugar que era considerado especial e eu também não entendi porquê. Na verdade, nao entendi nada. Passei a perguntar para mim mesma: Como assim especial? Não sabia o significado daquilo. Mas tudo bem, pela maneira com que a mulher olhava parecia ser algo bom, entao não fiquei preocupada. Chegando, olhou para mim e disse: - Filha esta é sua casa. Foi uma surpresa, pasmei e paralisei, só sabia olhar para sua feição. Mas o lugar era aconchegante, agradável e entendi o que ela quis dizr com "casa". Na maioria das vezes pensava desta forma, ainda mais quando ficava perdida. Eram muitas palavras e só aprofundava as mais repetidas. Por exemplo, a primeira que gravei foi mamãe.. achei até que era seu nome, só que percebi que aquilo era só comigo. O destaque da minha família era Meireles, cuidou seis meses sem descanço dessa menininha que escreve aqui. Toda vez que lembro fico agoniada e pensativa. Sinto dó e felicidade ao mesmo tempo. Essa é minha mãe que com 23 anos ganhou um presente, eu. A vida de meus pais era corrida demais quando nasci. Meu pai Rodrigo, trabalhava fora levando cargas cidade á cidade, não ficava por casa nos dias de semana. E dona Meireles era sócia de uma loja de doce muito famosa em Jovinópolis (SP), onde moramos hoje. Quando estava prestes a vir ao mundo minha mamãe pegou um atestado que durava apenas cinco meses e ela conseguiu mais um de tanto insistir. O problema é que eu era muito novinha e não tinha como ficar sozinha com aquela idade. Pensou até em deixar uma babá comigo pra voltar a trabalhar, mas meu pai não concordou. Todas as noites mal dormidas, dores de cabeça que ela passou por me ver espernear, gritar e chorar de fome. Juro, não queria fazer isto mas não conseguia pedir comida para ela.. sabia que o choro me ajudaria e ela entenderia.
Em uma tarde de sábado quando meu papai chegou os dois conversaram e chegaram a uma conclusão. Começaria eu a ficar no sítio de uma senhora. Não fazia a mínima de quem seria, mas era alguém que importava e muito. Na segunda feira Meireles começaria a trabalhar novamente e foi então que levou-me a casa desta senhora. Andei de automóvel pela primeira vez por 20 minutos, foi emocionante. Mas quando chegamos minha mãe começou a falar para mim que aquela senhora era minha avó, não estava entendendo.. aí veio ela calmamente até nós e eu ao vê-la senti algo bom dentro de mim.
Depois de cinco minutos quando minha mãe foi dizer tchau eu não sabia o que fazer, ela chorou. Pensei comigo mesma.. só pode ser fome, porque quando eu chorava tentava dizer que estava com muita fome e eu apontava pra árvore com uma maça pendurada para ela ver que tinha algo para ela, mas não sentia vontade no olhar dela. De repente segurou na minha mãozinha pequeninha e beijou deixando uma lagrima cair, pra mim era fome. Mas ela olhou para mim intensamente e disse:
- Eu te amo minha filha.
Foi então que fui parar no colo daquela senhora, senti a mesma sensação de quando nasci, olhei para ela e aquela mesma feição que havia no rosto de minha mãe antes parecia estar ali, e minha mãe entrou dentro do carro e foi embora..

Um comentário:

  1. Escrevestes um ótimo texto Bubu...
    Às vezes um sorriso diz tudo que precisa
    ser dito em certos momentos.

    "A infância é medida pelos sons e
    cheiros e paisagens,
    antes da hora negra da razão
    crescer" - John Betjeman

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